1.
Quais as principais dificuldades na luta pela
preservação da natureza?
A
principal dificuldade é a falta de uma
compreensão da humanidade de seu papel
no planeta. Temos uma cultura que nos induz
a acreditar que não fazemos parte dos
ciclos vitais e que somos superiores aos demais
seres vivos. Visão que faz as pessoas
agredirem o meio ambiente sem o menor remorso
ou freio moral.
Deste fato decorrem muitas outras dificuldades.
Em especial a prioridade dada ao processo de
produção em massa da sociedade
de consumo, a prioridade política do
econômico sobre os aspectos sociais e
ecológicos. A falta de visão da
maioria dos políticos, empresários
e muitos cidadãos quanto à importância
da questão ambiental como um fator central
na nossa existência. O que explica a existência
de uma série imensa de tecnologias com
altos impactos ambientais, a degradação
de muitos ecossistemas e uma resposta muito
lenta na defesa do meio ambiente através
de práticas e processos que respeitem
o meio ambiente e as leis da natureza.
2.
As leis existentes ajudam a coibir a poluição
industrial?
De
um modo geral temos uma legislação
muito boa sobre meio ambiente no Brasil.
Somos um dos poucos países com um capítulo
do meio ambiente na constituição.
Tudo fruto de uma grande pressão dos
movimentos ecológicos brasileiros. O
problema é que temos uma infraestrutrura
de fiscalização muito deficiente
por falta de prioridade política neste
sentido. Boa parte dos administradores públicos
e legisladores considera a questão ambiental
um entrave e não priorizam de fato uma
gestão ambiental que faça a lei
ser cumprida. Situação que facilita
a vida dos empreendedores econômicos sem
compromisso pessoal com os valores decorrentes
de uma ética de respeito à natureza.
Quando algum setor se mostra mais competente
rapidamente surgem atores reclamando dos rigores
da lei e pregando seu abrandamento ou revogação.
3.
Que avaliação fazes hoje em relação
aos movimentos ecológicos? Quais os resultados
já alcançados?
Os
movimentos ecológicos hoje estão
mais profissionais e mais capacitados do que
no passado. Mas sofrem com a falta de maior
apoio de militantes. Dificuldades econômicas
tem retirado o tempo de muita gente atuar nas
ONG´s. Também a mídia tem
dado menos espaços aos movimentos ecologistas.
Muitos veículos de comunicação
têm um compromisso maior com seus anunciantes
do que com os interesses da sociedade e defendem
a visão dos grandes grupos econômicos
para os quais a questão ambiental não
pode ser obstáculo à produção.
Mesmo neste contexto os movimentos ecológicos
têm conseguido avanços. O maior
deles é ter colocado a questão
ambiental no centro dos debates mundiais e captado
o respeito e admiração de muitos
cidadãos. A questão ambiental
está na agenda mundial hoje em dia. Isso
tem permitido o surgimento de uma legislação
de defesa da natureza, a criação
de órgãos ambientais no poder
público, a criação de programas
e unidades de proteção à
natureza bem como o desenvolvimento e implantação
de tecnologias que reproduzam e respeitem os
mecanismos naturais de perpetuação
da vida na Terra.
4.
O que as escolas poderiam
fazer junto a alunos/as e pais e responsáveis
para conscientizar sobre a importância
de ações concretas na luta contra
a poluição ambiental?
As
escolas têm um grande papel na formação
de cidadãos com uma visão ecológica.
Desde os anos 80 há um trabalho em franco
progresso no mundo todo. Este trabalho se volta
para os alunos em si, envolvendo-os num processo
de construção de conhecimentos
e no desenvolvimento de um sentimento de amor
e respeito pela vida e numa participação
ativa em atividades de defesa da natureza e
promoção de práticas ecológicas.
Isto se reflete nas famílias por conta
da influência das crianças junto
aos seus pais e familiares e na sociedade como
um todo. O segredo do sucesso é trabalhar
com os problemas ambientais que dizem respeito
à realidade imediata dos alunos apresentando
desafios de compreensão das causas e
na procura de soluções que possam
ser efetivadas pelas crianças, suas famílias
e comunidade.
5.
E para nós, no
nosso dia-a-dia, o que sugeres?
A
principal ação individual é
a busca do consumo consciente. Devemos procurar
sempre saber como as coisas são produzidas
e dar preferência àquelas produzidas
dentro de padrões ecológicos.
Também é importante praticar a
simplicidade evitando o desperdício e
o consumo de luxo. Economizar água e
energia e evitar o uso de carros são
coisas que trazem benefícios ambientais.
Separar o lixo, cuidar de plantas e criar ambientes
atrativos para a fauna. Proteger os animais.
Conhecer os problemas da cidade e participar
de ações para o seu enfrentamento
pelos órgãos responsáveis.
Procurar conhecer e ajudar as entidades voltadas
para a defesa do meio ambiente. E ter uma postura
pacifista e de respeito a si e aos demais seres
vivos humanos e não humanos.
6.
A situação
está melhorando?
Pergunta
difícil. Por um lado crescem os problemas
ambientais, por outro crescem os movimentos
de defesa da natureza. Estamos melhor preparados
para lidar com as questões ambientais.
Mas o impacto dos problemas é bem maior
que no passado. Estamos numa encruzilhada que
tanto pode nos levar ao colapso quanto à
construção de uma sociedade ecologicamente
sustentável.
7.
E o teu livro “A
história do peixe dourado”?
É
uma estória inspirada em anos de trabalho
e vivências na luta ambiental. Uma contribuição
para o grande esforço educativo que começa
nas crianças, mas que se destina a todas
as pessoas. Acredito muito na força das
histórias para ensinar e criar vinculações
entre as pessoas seu meio ambiente natural e
cultural. O texto registra muitas coisas já
feitas ou que estão ocorrendo, mas também
deixa em aberto uma perspectiva de continuidade.
Também pretende ser um apoio aos educadores,
formais e informais, preocupados em motivar
as crianças para o respeito e amor à
natureza e à vida.
8.
Quais os principais desafios hoje na área
do meio ambiente?
Ampliar
cada vez mais o número de pessoas envolvidas
de modo organizado na construção
de uma sociedade que viva dentro dos limites
e no respeito às leis naturais.
Só assim é que veremos florescer
as iniciativas que corrigiram os impactos da
humanidade no planeta. Os principais desafios
estão no combate às mudanças
climáticas, na geração
de energia limpa, na proteção
da vida silvestre, no combate à poluição,
na proteção de sociedades tradicionais,
na minimização da produção
de lixo, na ampliação da reciclagem
de matérias primas, na economia de recursos
naturais e na implantação de processos
produtivos que respeitem a natureza tanto na
agricultura como na indústria e em todos
os serviços.
Creio que temos que promover cada vez mais uma
revolução ética na nossa
forma de lidarmos com a natureza repensando
a forma como temos suprido nossas necessidades.
Esta ética deve estar baseada no respeito
e no cuidado com a vida em todas as formas e
na construção de uma cultura de
paz e de democratização de todos
os avanços que a humanidade já
alcançou.
A resposta aos desafios ambientais não
tem sentido se não resultar em benefícios
para todos os seres vivos do planeta. (Agosto
2006)